viernes, 13 de junio de 2008

Se depois de eu morrer. Alberto Caeiro. (Fernando Pessoa) Autor.

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografía,
Nâo há nada mais simples
Tem só duas datas-a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias sâo meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que nâo pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senâo um acompanhamento de ver,
Comprendí que as cousas sâo reaís e todas diferentes umas de outras;
Comprendí isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento sería achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sonho como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormí.
Além disso, fui o único poeta da natureza.

No hay comentarios: